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Soluções possíveis

26 de dezembro de 2016
A atual crise econômica impõe aos governos forte restrição orçamentária e demanda foco, método, coesão social e escolhas acertadas, um desafio pouco afeito ao perfil político predominante no Brasil, que tende a pulverizar ações com viés populista e obras físicas de utilidade duvidosa, ao imediatismo e à improvisação, à fragmentação da ação gerencial e ao micro gerenciamento das ações e recursos.

Atualmente, mais de 80% dos municípios do Brasil encontram-se em situação fiscal crítica, reproduzindo a atual crise fiscal dos Estados. O crescimento significativo da arrecadação no período 2004 a 2011 dificilmente se repetirá nos próximos dez anos e, dentro deste contexto, as soluções possíveis remetem a uma agenda com quatro itens: (I) foco na execução de estratégias prioritárias; (II) método e disciplina; (III) coesão gerencial do núcleo do governo; e (IV) dosagem das expectativas da população.

O primeiro item da agenda precisa ser formulado de forma dual, com medidas de curto prazo orientadas para a superação de problemas emergenciais e medidas  estruturantes, com resultados de longo prazo. A formulação desta agenda de medidas precisa ser baseada em estudos que indiquem a viabilidade técnica, financeira e política de cada uma e assegurem que as causas dos problemas sejam atacadas e deve ser traduzida em uma carteira enxuta de projetos que serão executados pelo governo ou em parceria com a iniciativa privada ou que componham um banco de projetos para capturar oportunidades futuras.

O segundo item diz respeito ao método de trabalho para evitar o improviso e o voluntarismo. Uma liderança firme, capaz de conduzir as mediações internas e externas ao governo é imperiosa para enfrentar a baixa capacidade de execução de projetos, esta determinada, em grande parte, pela má qualidade na formulação ou realização dos projetos, atrasos na execução e superestimação de orçamentos, fraco monitoramento, limitações na previsão futura da demanda para os serviços, conflito de diretrizes para a avaliação dos projetos e falta de capacidade técnica. A maioria dos problemas é de natureza gerencial e ocorre devido à baixa maturidade da gestão pública e pela falta de método de gestão de investimento público.

O terceiro item trata do papel medular do líder principal ao conduzir as decisões e ações, antecipando-se e comunicando as medidas mais difíceis para infundir confiança nos gestores e na sociedade.

Por fim, é primordial obter apoio da sociedade. Não adianta somente prestar contas. É indispensável avançar na comunicação com os diversos segmentos, utilizando as tecnologias de informação e comunicação, possibilitando que estes ajudem na solução. Dosar a expectativa das pessoas em relação à capacidade de entrega do Estado será um dos principais papéis dos líderes públicos nos próximos tempos.

Em momentos de maior restrição e dificuldade, as resistências às mudanças e medidas drásticas diminuem e aumenta a propensão à colaboração. É urgente agir rápido e voltar aos fundamentos da boa administração sem deixar de lado a política, mas fazer dela um instrumento de mediação de conflitos para superar as barreiras e viabilizar as entregas que realmente importam para a população.