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À espera da retomada

17 de abril de 2016
Alívio. É o que o país espera depois da votação, hoje, da admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Governistas esperam que ele seja rejeitado e que, assim, possam ser votadas medidas para reverter a crise. A oposição, que tem chances de vencer hoje, espera formar um novo governo em torno de Michel Temer no cargo de presidente da República, com um ministério de notáveis e mais respaldo para aprovar reformas do que o atual governo.

Analistas de mercado são, na maioria, otimistas com as chances de um governo Temer – menos do que há algumas semanas, porém. No cenário em que Dilma permanece no cargo, predominam aspectos negativos, embora haja alguns sinais favoráveis. A piora das perspectivas com Temer no poder se explica pela deterioração das perspectivas de crescimento do país. “Não haverá tempo para reverter isso neste ano. Na melhor das hipóteses, poderá acontecer em 2017”, alerta Thaís Marzola, economista-chefe da Rosenberg Associados. A previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 passou de 4,2% para 4,5% em algumas semanas. Sob Dilma, passou de 4,5% para 5,5% negativos.

“O ambiente político está muito tóxico, e continuará assim, mesmo com Temer”, diz João Augusto de Castro Neves, diretor para a América Latina da consultoria internacional Eurásia. Ele alerta também para o fato de que a Lava-Jato vai continuar, e pode dificultar a vida de Temer. Além disso, haverá protestos de sindicatos e movimentos sociais ligados ao PT, partido que sairia derrotado do processo. Os que veem sinais de melhora significativos chamam atenção para o fato de que Temer já chega com maioria formada no Congresso, e, negociador habilidoso, terá condições de até mesmo ampliá-la.

“O impeachment não é solução para nada. Mas a crise econômica nos empurrou para cá. É de esperar que surjam, a partir disso, soluções para o quadro que enfrentamos”, diz a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. “É possível termos uma confiança desconfiada, ainda que não entusiasmada”, comenta o economista Claudio Porto, presidente da Macroplan. Na avaliação dele, será possível aprovar medidas importantes, como a mudança das regras do Pré-Sal, já votadas parcialmente. Com menos obrigações para a Petrobras, que está sem caixa, devem voltar os investimentos no setor de óleo e gás, cuja queda é responsável pela maior parcela do tombo sofrido pela taxa de investimentos nos últimos anos. “O ambiente político está muito tóxico, e continuará assim, mesmo com Temer”, diz João Augusto de Castro Neves, diretor para a América Latina da consultoria internacional Eurásia. Ele alerta também para o fato de que a Lava-Jato vai continuar, e pode dificultar a vida de Temer. Além disso, haverá protestos de sindicatos e movimentos sociais ligados ao PT, partido que sairia derrotado do processo. Os que veem sinais de melhora significativos chamam atenção para o fato de que Temer já chega com maioria formada no Congresso, e, negociador habilidoso, terá condições de até mesmo ampliá-la. 

Porto também espera um “freio de arrumação” nos fundos de pensão, que enfrentam sérios desequilíbrios. Além disso o governo poderá conseguir a aprovação de regras, como a do teto para gastos públicos. São propostas que o atual governo tentou emplacar sem sucesso, diante do esfacelamento da base de apoio. “Temer conseguirá atrair nomes de destaque para os ministérios”, diz Zeina. Os ex-presidentes do Banco Central, Armínio Fraga e Henrique Meirelles teriam grande trânsito não só no mercado, mas também na administração pública, na qual já atuaram. É também o caso do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, ex-secretário do Tesouro Nacional e diretor do Fundo Monetário Internacional.

Porto duvida, como a maior parte do mercado, que será possível aprovar uma reforma da Previdência. Zeina está na minoria confiante. “Poderá ser aprovado algo para o futuro, com regras de transição, que ajudaria a volta da confiança”, explica. Ela espera também a retomada do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), iniciada por Joaquim Levy.

Na eventualidade de o governo Dilma continuar, uma vantagem imediata seria a retirada do processo de impeachment do meio do caminho. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva teria maior ascendência sobre o governo e poderia usar seu capital político para aprovar reformas. “Ele vai tentar fazer uma nova carta aos brasileiros, a exemplo da que fez em 2002, na campanha”, diz Castro Neves. Dilma seria apenas a ocupante do cargo de presidente, não a responsável pelas decisões. Lula tenderá fazer um discurso para a esquerda do partido, mas com políticas mais ao centro, na tentativa de conseguir a maioria no parlamento. “Mas ele não vai contar com a tolerância que Temer terá”, avisa Castro Neves. Há várias dúvidas no horizonte, com a permanência de Dilma no cargo. Uma delas é o surgimento de novos processos de impeachment, que poderão reacender a instabilidade.

A economista chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, avisa que a possível chegada de Temer ao Palácio do Planalto estancaria a sangria nas contas públicas e traria de volta parte da confiança perdida nos últimos cinco anos. Apesar de acreditar na habilidade política do vice-presidente, ela alerta que ele precisará costurar acordos com os parlamentares para aprovar as reformas necessárias ao país. Com a aprovação desses projetos, a inflação cederá, os juros devem cair e a economia iniciará um processo de retomada a médio prazo. “Não significa que ele será o salvador da pátria. Precisamos aumentar impostos, em um primeiro momento”, afirmou. Nas contas dela, caso Dilma continue, o déficit nas contas públicas pode ultrapassar 3% do Produto Interno Bruto (PIB) porque o governo não conseguirá as receitas extraordinárias previstas no orçamento.